Hoje, a beira da madrugada eu ouço de um burguês acusado e
já preso outrora por fraude, durante pouco tempo é claro(sem maiores detalhes),
que o ex-presidente Lula nada fez a não ser abrir as portas para uma corja de
ladrões, e que por isso ele se via indignado com os rumos que o país estava
levando, afinal estamos elegendo ladrões(sabe? essas pessoas que roubam por meio de ameaça, furto ou fraude). No mesmo momento quis interpelar essa
indignação dele, apenas para que não ficasse sobrecarregada toda em cima de um
réu, afinal uma corja de ladrões não se faz com uma única espécie. Mas, ao
declarar que uma das épocas em que mais se teve roubo no nosso amado Brasil foi
o período do regime militar, responsável pelo tão sonhado milagre econômico,
claro, como as pessoas bem esclarecidas já sabem, às custas da fome e
exploração de outras regiões que não eram e nunca serão o sul e sudeste do país,
tive que escutar deste homem, com o peito cheio: eu tenho saudade da ditadura
militar! E em resposta ao seu suspiro, ao meu lado, sentada com todos os seus
penduricados, e com o semblante estático de plásticas, a esposa do dono do
motel mais famoso da cidade suspirar em resposta, dizendo que foi a melhor época
que o Brasil viveu.
A indignação me mordeu. Como que em uma casa onde só se toma
Black Label, comia-se até alguns minutos atrás um risoto de frutos do mar a
beira de uma piscina tratada semanalmente por piscineiro contratado, em um
jardim cuidado com paisagismos e cheio de papagaios, araras, jabutis e outros
animais silvestres domesticados com tanto carinho pelo proprietário, como em um
lugar com pessoas tão bem instruídas pela educação particular, com seus filhos
bem encaminhados, alguém pode ter uma ideia tão errada sobre a história do
próprio país? Foi ai que percebi o tamanho da minha ingenuidade. Percebi que
talvez a opinião fosse realmente uma questão de ponto de vista. E que poucos se
davam ao trabalho de realmente conhecer as coisas antes de formular ideias
sobre elas. Afinal, por que um carioca da gema, com seu sotaque tão bem
pronunciado nos seus discursos eloquentes sobre política, cultura e – por que
não? – religião, teria que conhecer a realidade do nordeste do Brasil, região tão
sem importância, no período de 1964 à 1985? Por que ele ou qualquer outro
morador das regiões privilegiadas deveriam procurar saber quem foram os heróis
que resolveram a inflação e outros graves problemas econômicos brasileiros da
época? É bem melhor suspirar de saudade dos militares que nunca enriqueceram às
custas do Brasil e deram o seu sangue pelo país. Tudo isso muito bem escrito
nas pesquisas dos historiadores, não é mesmo?!
[ SÓ QUE NÃO!]
Tentei erguer minha voz firme de adolescente que garimpa
todos os dias as verdades sobre o mundo, mas, a experiência adquirida com os
anos, essa experiência ignorante que lhe deu seus cabelos brancos aumentaram o
volume da voz do meu amigo ostentando suas sábias opiniões como verdades
absolutas. Outras vozes mais tímidas lhe deram razão. A esposa do senhor, com o
cachorro maltês, cheirando a petshop, no colo também expressou sua nostalgia
pelo regime militar, e a repugnância aos ladrões petistas espalhados por esse
governo que já dura quase 12 anos. Eu já tinha feito essa reflexão diversas
vezes. Muitos partidários petistas estão sendo julgados. Mas, também não nos
devem uma resposta a casos mais antigos os tucanos e outros de partidos mais
insignificantes. Digo insignificantes porque tenho descoberto que há dois partidos
realmente “significantes” para os eleitores neste país, situação que deve
agradar bastante meu amigo amante da farda, pois lembra 1964. Mas,
pelo visto minha reflexão é inútil, pois ladrões mesmo são aqueles que vestem
vermelho e tiram do imposto de renda desse pobre profissional liberal, que deve
ganhar seus míseros 20 mil por mês, 20 reais para distribuir uma tal de bolsa
família para quem ocupa, na hierarquia de classes, muitos degraus abaixo do
dele.
Meu rosto corou de desespero. Eu precisava alerta-los que
eles não sabiam do que falavam. Foi quando eu me dei conta que na verdade eles
não queriam saber. Fiquei indignada, CLARO! Mas, lembrei que eu estava tentando
uma discussão com um ex-preso e atual acusado por fraude, uma dona de motel e
por aquela moça com o cachorro no colo.
Por um momento amei cada pessoa que passa perto
de mim com o volume do carro no último escutando o funk mais ouvido da semana,
o sertanejo mais cantado. Amei essas pessoas que assumem a própria ignorância mesmo
que de forma inconsciente. Amei cada um que eu critiquei pelos seus gostos
populares e vazios, porque eles fazem parte da massa e votam, mesmo que quase
cegos, pela massa, por aquilo que forma isso que a gente chama de povo. E odiei
com todas as minhas forças aquela burguesia que até que louvava os clássicos da
MPB, Chico, Caetano, Milton, liam bons livros, assistiam globo, mas também a TV
a cabo. Odiei com todas as forças cada um deles que diziam conhecer o que de
melhor havia nesse país e nos outros, mas, nunca, e eu afirmo e comprovo se for
preciso, nunca sentiram ou foram nem por um segundo verdadeiros brasileiros.
Agora, se me dão licença, está tarde. Depois de desabafar com o mundo virtual vou copiar a lista de compras que minha mãe me delegou. Estamos perto do dia 10, precisam ver como os mercados da periferia ficam abarrotados. E o que é melhor, abarrotados de BRASILEIROS!
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PS: Perdoem alguns erros e confusões textuais. A raiva e a indignação são péssimas revisoras gramaticais.
A "burguesia" autoritária, retrógada e fascista não cansa de "gritar" em desefa da ética. Porém, se esquecem dessa mesma ética quando sonegam impostos, compram lugares em filas de parques na Disney e/ou em shows gratuitos e etc.
ResponderExcluirFico com Cazuza A BURGUESIA FEDE!!!
Eu sabia que alguém na família toca a mesma melodia que eu!
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