sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Aaaah... faz-me rir burguesia elitista. Faz-me de rir de cólera!


Hoje, a beira da madrugada eu ouço de um burguês acusado e já preso outrora por fraude, durante pouco tempo é claro(sem maiores detalhes), que o ex-presidente Lula nada fez a não ser abrir as portas para uma corja de ladrões, e que por isso ele se via indignado com os rumos que o país estava levando, afinal estamos elegendo ladrões(sabe? essas pessoas que roubam por meio de ameaça, furto ou fraude). No mesmo momento quis interpelar essa indignação dele, apenas para que não ficasse sobrecarregada toda em cima de um réu, afinal uma corja de ladrões não se faz com uma única espécie. Mas, ao declarar que uma das épocas em que mais se teve roubo no nosso amado Brasil foi o período do regime militar, responsável pelo tão sonhado milagre econômico, claro, como as pessoas bem esclarecidas já sabem, às custas da fome e exploração de outras regiões que não eram e nunca serão o sul e sudeste do país, tive que escutar deste homem, com o peito cheio: eu tenho saudade da ditadura militar! E em resposta ao seu suspiro, ao meu lado, sentada com todos os seus penduricados, e com o semblante estático de plásticas, a esposa do dono do motel mais famoso da cidade suspirar em resposta, dizendo que foi a melhor época que o Brasil viveu.
A indignação me mordeu. Como que em uma casa onde só se toma Black Label, comia-se até alguns minutos atrás um risoto de frutos do mar a beira de uma piscina tratada semanalmente por piscineiro contratado, em um jardim cuidado com paisagismos e cheio de papagaios, araras, jabutis e outros animais silvestres domesticados com tanto carinho pelo proprietário, como em um lugar com pessoas tão bem instruídas pela educação particular, com seus filhos bem encaminhados, alguém pode ter uma ideia tão errada sobre a história do próprio país? Foi ai que percebi o tamanho da minha ingenuidade. Percebi que talvez a opinião fosse realmente uma questão de ponto de vista. E que poucos se davam ao trabalho de realmente conhecer as coisas antes de formular ideias sobre elas. Afinal, por que um carioca da gema, com seu sotaque tão bem pronunciado nos seus discursos eloquentes sobre política, cultura e – por que não? – religião, teria que conhecer a realidade do nordeste do Brasil, região tão sem importância, no período de 1964 à 1985? Por que ele ou qualquer outro morador das regiões privilegiadas deveriam procurar saber quem foram os heróis que resolveram a inflação e outros graves problemas econômicos brasileiros da época? É bem melhor suspirar de saudade dos militares que nunca enriqueceram às custas do Brasil e deram o seu sangue pelo país. Tudo isso muito bem escrito nas pesquisas dos historiadores, não é mesmo?!

[ SÓ QUE NÃO!]

Tentei erguer minha voz firme de adolescente que garimpa todos os dias as verdades sobre o mundo, mas, a experiência adquirida com os anos, essa experiência ignorante que lhe deu seus cabelos brancos aumentaram o volume da voz do meu amigo ostentando suas sábias opiniões como verdades absolutas. Outras vozes mais tímidas lhe deram razão. A esposa do senhor, com o cachorro maltês, cheirando a petshop, no colo também expressou sua nostalgia pelo regime militar, e a repugnância aos ladrões petistas espalhados por esse governo que já dura quase 12 anos. Eu já tinha feito essa reflexão diversas vezes. Muitos partidários petistas estão sendo julgados. Mas, também não nos devem uma resposta a casos mais antigos os tucanos e outros de partidos mais insignificantes. Digo insignificantes porque tenho descoberto que há dois partidos realmente “significantes” para os eleitores neste país, situação que deve agradar bastante meu amigo amante da farda, pois lembra 1964. Mas, pelo visto minha reflexão é inútil, pois ladrões mesmo são aqueles que vestem vermelho e tiram do imposto de renda desse pobre profissional liberal, que deve ganhar seus míseros 20 mil por mês, 20 reais para distribuir uma tal de bolsa família para quem ocupa, na hierarquia de classes, muitos degraus abaixo do dele.
Meu rosto corou de desespero. Eu precisava alerta-los que eles não sabiam do que falavam. Foi quando eu me dei conta que na verdade eles não queriam saber. Fiquei indignada, CLARO! Mas, lembrei que eu estava tentando uma discussão com um ex-preso e atual acusado por fraude, uma dona de motel e por aquela moça com o cachorro no colo.
Por um momento amei cada pessoa que passa perto de mim com o volume do carro no último escutando o funk mais ouvido da semana, o sertanejo mais cantado. Amei essas pessoas que assumem a própria ignorância mesmo que de forma inconsciente. Amei cada um que eu critiquei pelos seus gostos populares e vazios, porque eles fazem parte da massa e votam, mesmo que quase cegos, pela massa, por aquilo que forma isso que a gente chama de povo. E odiei com todas as minhas forças aquela burguesia que até que louvava os clássicos da MPB, Chico, Caetano, Milton, liam bons livros, assistiam globo, mas também a TV a cabo. Odiei com todas as forças cada um deles que diziam conhecer o que de melhor havia nesse país e nos outros, mas, nunca, e eu afirmo e comprovo se for preciso, nunca sentiram ou foram nem por um segundo verdadeiros brasileiros.



Agora, se me dão licença, está tarde. Depois de desabafar com o mundo virtual vou copiar a lista de compras que minha mãe me delegou. Estamos perto do dia 10, precisam ver como os mercados da periferia ficam abarrotados. E o que é melhor, abarrotados de BRASILEIROS!

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PS: Perdoem alguns erros e confusões textuais. A raiva e a indignação são péssimas revisoras gramaticais.