Trecho da sétima caminhada do livro "Os Devaneios do caminhante solitário":
" Em todos os males que nos acontecem, olhamos mais a intenção que o efeito. Uma telha que cai de um telhado pode nos ferir mias, mas não nos aflige tanto quanto uma pedra lançada propositalmente por uma mão malévola. O golpe erra o alvo algumas vezes mas a intenção nunca o erra. A dor física é a que menos se sente nos ataques da sorte e quando os infortunados não sabem a quem culpar por suas infelicidades, culpam o destino, que personificam e ao qual atribuem olhos e uma inteligência para atormentá-los propositalmente. É assim que um jogador exasperado por suas perdas se enfurece sem saber contra quem. Imagina um destino que se encarniça deliberadamente contra ele, para atormentá-lo e encontrando um alimento para sua cólera, exita-se e inflama-se contra o inimigo que criou para si mesmo. O homem sábio,que em todas as suas infelicidades não vê se não o golpes da fatalidade cega, não tem estas agitações insensatas, grita na sua dor, mas sem veemência, sem cólera, do mal que o atinge sente apenas o ataque material e os golpes que recebe em vão ferem sua pessoa, nenhum chega a seu coração.
É muito ter chegado até este ponto mas não é tudo se nele nos detivermos. É bom ter cortado mal mas isto não significa ter deixado a raiz. Pois essa raiz não se encontra nos seres que nos são estranhos, ela está em nós mesmos e é aí que é preciso trabalhar para arrancá-la c
ompletamente. "