Não sei brincar de ser adulta, sensata.
Não tenho escrúpulos. Bem pouca dignidade. Sou mesquinha,
egoísta.
Faço papéis ridículos. Exijo o que não tenho direito e choro
de covardia.
Dentre os canalhas, eu sou o pior.
Entrego minha alma e cobro o que devedor não pediu.
Recordo defeitos pra compensar meus erros.
Eu incomodo e atrapalho com consciência.
Acredito nos falsos elogios e construo falsas ideias de mim.
Até teve quem me amasse. Tem quem ame, mas, se soubessem o
quanto custa... e eu não tenho o escrúpulo de alertar.
Sem querer, ou querendo, acredito nos que me defendem por
pena, que é a única defesa que me cabe.
Sou vil! Como foi o Álvaro do Pessoa.
Só não estou cercada de príncipes porque não tenho a honra de
admiti-los como tais.
Morrerei cercada de entes queridos que nunca permitirão à
qualquer sábio dar razão a essa minha confissão.
Chorarão. Claro que sim. E eu, cada vez mais do fundo, vou
gargalhar de tristeza por essa santa ingenuidade.
Deixem-me ir que nada de bom se vai.
Poupem-me dessa piedade ao menos no fim. Que a pena é quase
tão vil quanto eu.
Não guardem nada. Dêem tudo aos pobres para eu ter a chance
ter sido quase bom em algum momento.
E durmam tranquilos. Não me atreverei à assombrações. Minha
inconveniência se vai com a morte.
Vou buscar a redenção na possibilidade da inexistência.