domingo, 6 de janeiro de 2013

Canção

Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, apressa-te que amanha eu morro,
que amanha eu morro e não te vejo!

Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, apressa-te que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!

Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta em tua face
e em redor dos muros o vento inimigo.
Apressa-te, amor, apressa-te que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo...

Cecília Meireles

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